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Fé, arte e cultura em tempos de pandemia

Como uma acadêmica, uma professora e um pastor estão levando acolhimento emocional a quem precisa em tempos de isolamento

Texto: Pedro Freitas
Edição: Lívia Ferreira
Imagens: Acervos pessoais

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte

Eternizada na música dos Titãs, a necessidade de consumir arte e cultura para aliviar o sofrimento também encontra respaldo na ciência. “A gente busca viver com os conflitos, suportá-los, e a arte tem esse papel porque nos ajuda a elaborar os significados. A arte produz novas formas de ver e pensar a vida, ela é uma transformação da realidade. E, nesse sentido, é fundamental para todos”. A afirmação foi feita em julho de 2020, já na pandemia, pelo psiquiatra e fundador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Amarante, em entrevista à ComCiência, revista eletrônica de jornalismo científico.
E foi a tentativa de amenizar a angústia e a ansiedade causadas pelo isolamento social que levou uma estudante universitária, uma pedagoga e um pastor e abraçarem a arte e a cultura.

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Barquinho na fechadura
Desde pequena, Anna Luiza Sposito, que cursa Letras – Espanhol e Literatura da Língua Espanhola na Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), gostava de contar e ouvir histórias. “Eu lembro que na minha imaginação e na minha infância, na casa dos meus avôs maternos, eu conseguia ver um barquinho na fechadura da porta que ia da cozinha para os quartos e a cada dia que eu estava lá criava uma história diferente daquele barquinho para o meu avô “, conta.
Anna Luiza começou a escrever em 2017. O estilo era mais romântico – diferente do atual, mais intimista e que aborda temas do cotidiano. O trabalho como poetisa sempre foi bem acolhido, especialmente agora, com tantas pessoas precisando de amparo emocional. “Esse retorno vindo de fora me faz querer continuar. Meu conselho é que as pessoas deixem que a arte esteja presente em suas vidas, seja numa contação de história ou um diálogo com o outro, lendo um livro ou da maneira e na arte que com a qual sentirem proximidade.”

Poet.als
A produção da estudante universitária pode ser conferida na página @poet.als no Instagram. A página traz não só poesias dela, como críticas literárias, dicas de livros e vídeos de poemas declamados por autores nacionais e estrangeiros. “A arte dialoga com as pessoas de uma forma que a linguagem objetiva não é capaz de atingir. Ela diz diretamente aquilo que não se consegue por meio da fala coloquial”, defende a poetisa.

Anna Luiza Sposito criou uma página de poesias e dicas de livros

 

Da lousa ao lúdico
Ela já colecionava muita história pra contar por causa da profissão. Mônica Campista é pedagoga em Carmo do Rio Claro. Dava aulas presenciais para crianças até que o isolamento social imposto pela pandemia a afastou de seus pequenos.
Para driblar a saudade e ajudar os pais, a pedagoga criou um canal de histórias no YouTube. Em Histórias da Vovó Mônica, a professora dramatiza historinhas infantis e interage com um cenário virtual. Além de entreter a criançada, o canal ajuda os pais ao entregar conteúdo de qualidade aos filhos.
“É gratificante poder tornar o dia das pessoas mais leves e poder, mesmo longe das crianças, participar do dia delas e entretê-las de forma saudável”, comemora. “Acredito que as pessoas não devem perder a fé. Tudo vai passar. Angústias e sofrimentos devem ser controlados, e o coração deve se manter em paz”, aconselha.

Por meio de histórias em um cenário virtual, Mônica Campista distrai a criançada em seu canal no YouTube

Jesus
Pastor na Primeira Igreja Batista de Passos, Gilberto Furtado sentiu na pele a dor do desamparo e a delícia do abrigo emocional. Veio de uma família disfuncional, marcada por episódios de intensa violência doméstica. “Eu andava sem rumo e sem direção, quando fui acolhido na minha dor e desespero. A vulnerabilidade era tanta que não havia razão de viver. Em Jesus tudo mudou”, relata.

Ajuda via WhatsApp
Gilberto se recorda de um episódio marcante ocorrido via aplicativo de mensagem. “Uma pessoa me indagou sobre o suicídio e as questões religiosas pelo WhatsApp. Percebi que ela não queria conhecimento teológico ou doutrinário sobre o assunto. Era sobre ela. Fiquei estático, pois qualquer resposta que eu desse poderia ser um “start” para uma tragédia”.
O pastor orientou que seu interlocutor procurasse com urgência ajuda de profissionais da psiquiatria e psicologia. “Me emocionei quando me disse que havia retornado às consultas e aos medicamentos. E hoje está em condições para enfrentar as lutas diárias e com qualidade de vida”, afirma, lembrando que, dependendo do grau de sofrimento psíquico, é necessária a intervenção de profissionais da Saúde.

Gilberto escreveu dois livros. Um deles, Triângulo de Papel, em parceria com a esposa, psicóloga Neuza Furtado

Livros
A gratidão do pastor ao amparo que recebeu se revela nos aconselhamentos que realiza ao longo de 36 anos de sacerdócio pastoral e também se materializou em livros. Em conjunto com a espoca, a psicóloga Neuza Furtado, ele escreveu Triângulo de Papel: Jogos e papéis psicológicos nos relacionamentos (disponível na Amazon).
Em relacionamentos tóxicos – que podem ser conjugais, familiares, entre amigos – as pessoas acabam reféns de jogos psicológicos que incluem o salvador, que resolve tudo; a vítima, que se sente injustiçada; e o perseguidor como crítico atroz. “O livro se propõe a identificar quando acontece, maneiras práticas de romper com esses padrões destrutivos, como fazer escolhas conscientes e parar de entrar nesses papéis”, explica o pastor.
Ano passado, ainda no início da pandemia, o pastor foi convidado, com outros autores, a escrever o livro Há fé! Solitude com Deus é um arco… de promessas! A obra traz textos motivacionais que fortalecem a fé das pessoas em momentos de desafios. É gratuita e está disponível aqui.

Salmos
Gilberto usa uma passagem bíblica para reconfortar quem está sofrendo nesse período. “O choro pode durar toda a noite, mas a alegria vem com o amanhecer (Salmos 30:5).”
Fé, arte e cultura – remédios para amenizar a dor na pandemia.

 

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