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“Tenho 1,70m, 57Kg e me acho obesa”

Cresce entre os jovens a prevalência da distorção da imagem corporal. Psiquiatra em Passos, Amanda Lima explica como identificar o sintoma e alerta para a necessidade de acompanhamento multidisciplinar do paciente

Lívia Ferreira

Sabrina (nome fictício) é uma adolescente de Passos com 1,70m e 57 Kg. Tem cintura fina, musculatura definida e a proporção ideal entre massas magra e gorda. Mesmo assim, acha que está obesa. “Eu me olho no espelho e me acho enorme. Isto acaba com a minha autoestima”, diz. A jovem foi encaminhada à psicoterapia por ter uma percepção alterada da própria imagem. A distorção da imagem corporal costuma ser um sintoma comum em quadros de anorexia e bulimia nervosa, que frequentemente se desenvolvem ainda durante a adolescência. É mais prevalente em mulheres que em homens. Mas está aumentando em ambos os sexos. Em entrevista à Verboaria, a psiquiatra Amanda Lima (foto) explica como identificar a distorção da imagem corporal e alerta que este sintoma muitas vezes está vinculado a um quadro clínico maior, que requer acompanhamento multidisciplinar e tem acometido principalmente os jovens, reféns dos padrões de beleza impostos pelas redes sociais.

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O que é distorção da imagem corporal?
É uma percepção alterada que a própria pessoa tem do seu corpo e todos os pensamentos, sentimentos e comportamentos que resultam desta percepção. Ou seja, é a forma como a pessoa acredita que ela é, se vê e acredita que os outros a veem ou julgam.

Quais os sintomas do distúrbio?
A distorção da imagem corporal não é um diagnóstico em si. Mas um sintoma que comumente está presente em alguns tipos de transtornos alimentares.

A distorção da imagem corporal necessariamente vem acompanhada de transtornos alimentares?
A distorção da imagem corporal é um sintoma. Então, está dentro de um quadro clínico maior. Ela é mais frequente dentro dos transtornos alimentares, mas pode estar presente em outros diagnósticos psiquiátricos também.

Qual a prevalência da distorção da imagem corporal?
Ela está presente em praticamente em todos os quadros de anorexia nervosa e bulimia nervosa. Então, sua prevalência, grosso modo, pode ser pensada como a encontrada para esses transtornos porque são os quadros em que ela aparece mais comumente. A prevalência da anorexia nervosa fica em 8 a cada 100 mil habitantes e a da bulimia gira em torno de 13 a cada 100 mil. No entanto, este percentual tem aumentado de forma importante e, infelizmente, também muitos casos ficam sem o devido diagnóstico e tratamento.

A distorção da imagem corporal afeta mais os jovens, adultos, idosos, crianças?
Os transtornos alimentares e, consequentemente, a distorção da imagem corporal podem ocorrer em qualquer idade.
Mas, o mais comum é o seu início durante a adolescência ou no início da idade adulta. Lembrando que estes são quadros geralmente crônicos. Assim, alguns sintomas podem perdurar por toda a vida.

Acomete mais homens ou mulheres?
A prevalência entre as mulheres é muito maior do que entre os homens. No entanto, o número de casos está aumentando em ambos os gêneros.
A pressão social sobre as mulheres para ter um corpo magro é um fator que pode precipitar a abertura do quadro, sim. Mas é importante lembrar que, como se trata de um quadro complexo, múltiplos fatores estão envolvidos. Assim, embora o padrão de beleza feminino seja um fator que contribui para isso, não podemos dizer que ele, isoladamente, é a causa do problema. Entre os homens verifica-se também um aumento de casos, principalmente entre os homens homossexuais.

Como a distorção da imagem corporal aparece?
A distorção da imagem corporal é um sintoma que está dentro de um quadro clínico maior, mais frequentemente os transtornos alimentares. Então, pensando na gênese desses transtornos, podemos dizer que eles precisam de três grandes grupos de fatores para se desenvolverem: os fatores predisponentes, os fatores precipitantes e os fatores de manutenção.
Os fatores predisponentes estão ligados à genética do indivíduo e também a características próprias de personalidade.
Os fatores precipitantes estão relacionados ao ambiente: relações disfuncionais, padrão de beleza vigente, profissões que exigem muito da aparência física.
E os fatores de manutenção são todo o conjunto de fatores que ajuda na perpetuação do quadro.
Pensando na anorexia nervosa, por exemplo, o baixo peso que estes pacientes costumam atingir contribui para a distorção da imagem corporal. Porque sem quantidade de energia e suprimentos necessários há um importante prejuízo no funcionamento cerebral, o que faz com que a percepção alterada da própria forma corporal se perpetue.

Qual o tratamento indicado?
O tratamento é vinculado ao tratamento dos transtornos alimentares em si, que de forma ideal, deve ser feito por uma equipe mínima de profissionais composta por psiquiatra, psicólogo e nutricionista.
Mas, pensando especificamente sobre o sintoma da distorção da imagem corporal, alguns profissionais como fisioterapeutas e educadores físicos também podem ser de grande valia, no intuito de, através de exercícios corporais específicos, auxiliarem em um processo de reabilitação sobre a forma distorcida e imprecisa como o cérebro reconhece o tamanho do corpo e ajudar no reconhecimento do tamanho real da imagem corporal.

Existe prevenção contra a distorção da imagem corporal?
Aí precisamos pensar, basicamente, na prevenção contra os transtornos alimentares. Sabe-se hoje que o principal fator de risco vinculado à abertura de um quadro de transtorno alimentar são as dietas muito restritivas. Sendo assim, estas deveriam ser evitadas. Além disso, a pressão social sobre os corpos é mais um fator que contribui porque passa a ideia de que somente através de um corpo magro você poderá ser belo, bem sucedido e atraente. Essa imagem é vendida como se todos esses atributos só fossem possíveis entre as pessoas magras, sem respeitar questão individuais, genética e traçando um perfil de fracasso para os que não se enquadram neste padrão.
Assim, além de evitar dietas muito restritivas, vejo também como de suma importância tentar desenvolver um olhar crítico sobre o que é vinculado pela mídia – em especial, através por meio das redes sociais.
E no caso dos adolescentes, em particular, é preciso maior atenção porque eles acabam sendo mais vulneráveis à essas ideias lançadas, até pelo desejo intenso de serem socialmente aceitos.

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