Professora da UEMG Passos é premiada por sua tese de doutorado
Homenagem aconteceu na UFMG, durante o maior evento de antropologia da América Latina
A coordenadora do curso de História da UEMG Passos, professora Yara de Cássia Alves, recebeu o Prêmio Lélia Gonzalez de melhor tese de doutorado defendida na área de Antropologia Social nos anos de 2022-2023. “Isto me alegrou enormemente, dada a história da autora e sua importância na área. Negra, mineira, militante em prol das questões étnico-raciais, Lélia é uma inspiração que atravessa os estudos antropológicos contemporâneos. Portanto, me senti honrada e senti que honrei minha ancestralidade”, destaca a docente sobre ser premiada.
Maior evento da América Latina
A premiação ocorreu durante a 34ª Reunião Brasileira de Antropologia, nos dias 23 a 26 de julho, em Belo Horizonte, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O evento, que é o maior de antropologia da América Latina, reuniu 3.800 antropólogos.
Tese
Intitulada “Nos rastos do passado: costuras do tempo na construção do parentesco e da socialidade entre quilombolas do Vale do Jequitinhonha-MG”, a tese tem como objetivo central percorrer a noção de rasto, que busca de maneira ampla reviver o passado no presente, se expressando de maneiras distintas nos espaços, festas, corpos.
“A tese tem uma abordagem etnográfica e foi escrita após aproximadamente seis meses de trabalho de campo, divididos em estadias diferenciadas que se relacionavam a eventos específicos que acontecem no calendário local, como a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, o tempo da política, o tempo das águas”, explica Yara que, durante o estudo, residiu em casas das quatro comunidades quilombolas pesquisadas – o que já acontecia desde 2009, quando iniciou as pesquisas na região. “Portanto, a experiência adquirida ao longo de treze anos contribuiu significativamente para o aprofundamento das questões centrais da pesquisa, que se relacionam diretamente com os temas do parentesco, da política e da construção da memória”, completa.
Metis
A professora é associada ao Metis, um projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Yara é vinculada ao projeto como pesquisadora associada por meio do Grupo de Pesquisa Hybris, do qual ela faz parte na Universidade de São Paulo (USP). “Os principais resultados da tese me mostraram que os quilombolas da região estão sempre buscando referências no passado para entenderem o presente e se direcionarem ao futuro – algo semelhante à filosofia africana do Sankofa, que ensina que é preciso olhar para trás para caminhar à frente. De maneira ampla, o parentesco, a política e a religião se constroem com forte base no território que ocupam, principalmente nas casas, conhecidas como casas raízes”, esclarece, lembrando que, para os quilombolas, a figura da mãe surge como central, sendo reconhecida pelo respeito que inspira e pela força que adquire com os desafios cotidianos. “A maternidade extrapola o campo do parentesco e surge como ponto de referência para compreenderem a política, por exemplo. Portanto, o trabalho feminino da criação dos filhos é fundamental para compreendermos uma série de fatores que não são associados diretamente ao parentesco”, comenta a docente, ao descrever as conclusões da tese.
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