
Texto: Lívia Ferreira
“Deus foi o que me sustentou”. Assim a enfermeira Fabrine Aguilar Jardim Pinto, 34 anos, resume os dois maiores desafios de sua vida: sobreviver a um câncer diagnosticado aos quatro anos de idade e ter ficado infértil em decorrência da quimioterapia.
O sonho que ela e o marido Reni Aparecido Norberto Pinto, 33, têm de embalar nos braços o próprio filho parece estar mais próximo de se realizar: entre 250 concorrentes, o casal ficou entre os dois vencedores de um concurso nacional que tem como prêmio uma fertilização in vitro (FIV).
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A doença
O diagnóstico de Linfoma de Burkitt veio acompanhado de um prognóstico desanimador: as chances de cura eram muito pequenas. Durante um ano e meio, os pais de Fabrine, que na época moravam no município mineiro de Coronel Murta, viajavam 584 Km até Belo Horizonte, onde se revezaram noite adentro na Santa Casa da cidade para cuidar da filha mais velha – a primeira de três irmãos. Católica desde criança, Fabrine conta que chegou a ter uma visão de Nossa Senhora Aparecida assegurando que ela venceria a doença.

A infertilidade
Contrariando todas as expectativas médicas, ela foi curada. Mas os efeitos tratamento do câncer seriam percebidos anos depois. Aos 16 anos, Fabrine não estava desenvolvendo bem as características secundárias, como pelos e o crescimento dos seios. “Comecei a não menstruar. O oncologista me encaminhou para um endocrinologista. Ele descobriu que a quimioterapia havia impedido o desenvolvimento do meu ovário, que era infantil”. Nenhuma outra sequela deixada pelo tratamento oncológico – e houve várias – foi tão devastadora para ela.

Relacionamentos
Por saber que não poderia ser mãe, Fabrine interrompia os relacionamentos afetivos. “Sempre escondi de todo mundo. Terminava os namoros por receio.”
Há três anos, ela se casou com o Reni, professor contratado de Sistema de Informações da UEMG Passos. Fabrine contou a ele sobre a infertilidade quando já estavam noivos. Pai de Miguel, hoje com oito anos e filho de um relacionamento anterior, Reni só tomou a real dimensão da situação casado. “O baque veio depois. Quando o relacionamento se estabiliza fica faltando o presentinho de Deus. Quero ter um filho com a Fabrine.”

FIV
Em plena pandemia, recém-casados, com casa financiada, eles investiram R$ 24 mil em uma fertilização in vitro. A transferência de dois embriões foi feita em 01/03/2021, dia do aniversário de 32 anos de Fabrine. “Naquele momento senti que estava recebendo o melhor presente do mundo, a esperança de realizar um sonho”, recorda-se.
Na ansiedade de saber se estava grávida, ela fez o teste antes do tempo recomendado. O resultado veio positivo. “Eu e meu marido ficamos extremamente felizes, mas infelizmente, no dia do ultrassom, não ouvimos o coração do nosso anjinho, e acabamos descobrindo uma gravidez química [havia a presença do hormônio, mas não a implantação do embrião no endométrio]. Foi um sofrimento imenso, perdi temporariamente a esperança. Foram dias difíceis para nossa família”, lembra Fabrine.
Neste turbilhão de emoções, Reni perdeu o emprego de coordenador de área de tecnologia de uma indústria e o casal teve de vender a casa financiada. “Não digo que foi caro porque é um sonho. Mas a gente se apertou”, diz Reni.

O concurso
A chance de retomar os planos de ser mãe veio quando Fabrine descobriu no Instagram o perfil da Gestar, organização não-governamental que tem por objetivo viabilizar tratamentos de reprodução assistida por meio de parcerias. A Gestar foi criada por Vanessa Jost, ela mesma uma ex-tentante que ajuda outras tentantes a realizarem o sonho de se tornarem mães.
Para participar do concurso, as candidatas passaram por uma triagem que incluía análise de renda familiar. Outro requisito era contar a trajetória de tentar engravidar – o que, para Fabrine, foi uma forma de exorcizar o sofrimento. “Escrevi chorando. Mas pensei: ou eu conto minha história ou vou viver a minha vida eternamente com dor. Tirei um peso da minha vida”, diz, relembrando o sentimento de expor as próprias angústias.
O terceiro quesito, que determinou a vitória, foi o número de curtidas e comentários no post de cada tentante. Além de Fabrine, que contou a história 3, ganhou também a história 1.
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A comemoração
Professora convocada na UEMG Passos e na ETEP Passos, Fabrine teve um mutirão de alunos como “cabos eleitorais” no concurso – incluindo aqueles para quem já nem leciona mais, como os do Senac e da Faculdade Barretos – ela morou no município paulista. Em Barretos, trabalhou Hospital de Amor, onde viveu “experiências impactantes.”
“Eu estava dando aula à noite, quando os alunos começaram a gritar comemorando. Era pela vitória da Fabrine no concurso”, lembra Reni. O resultado foi divulgado em uma live no último dia 31.

Laboratório
A experiência de vida de Fabrine fez dela, de certa forma, um laboratório para o conhecimento acadêmico que passou a produzir. Em 2014, iniciou o mestrado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), onde pesquisou as incertezas e preocupações relacionadas à fertilidade de adolescentes e adultos jovens que sobreviveram ao câncer na infância e adolescência.
Hoje sua tese de doutorado busca compreender como ocorre a comunicação da infertilidade entre profissionais de saúde, pais, pacientes e sobreviventes. “O câncer deixou uma marca profunda na minha história, uma marca que não escolhi, mas que teve um impacto significativo em minha vida. Movida pela minha própria experiência e pela vontade de ajudar outras pessoas que enfrentam a mesma luta, decidi me aprofundar no estudo da infertilidade e do câncer. Escolhi pesquisar sobre esse assunto para ajudar outras pessoas que tiveram câncer e que estão passando por isso.”
Parceiros
A fertilização in vitro será uma doação do médico Matheus Roque, da Mater Prime, clínica de reprodução humana assistida localizada em São Paulo (SP). Em Passos, o casal vai contar com o acompanhamento voluntário dos profissionais Marcella Botelho (nutricionista maternoinfantil); Taís Horta (nutricionista); Rodrigo Barreto (ginecologista obstetra e especialista em reprodução humana assistida e academia Via Brasil Club.
Planos
“Com o câncer pude sentir de perto a dor da possibilidade de não ser mãe, porém, mais do que tudo, esse mesmo câncer também despertou em mim uma força e determinação que desconhecia. E é essa força que me impulsiona a compartilhar com vocês o meu maior sonho: o desejo de ser mãe”, diz Fabrine, que já i,magina a presença de alguém muito desejado na apresentação da sua tese de doutorado. “Desejo que meu filho esteja presente no dia da defesa. Inclusive, gostaria de incluir uma foto minha com meu filho e meu marido no último slide da minha apresentação.”
Os nomes já estão escolhidos: Ayla (“luz da Lua”) ou Samuel (profeta bíblico filho de Ana. Por muito tempo, Ana foi estéril). Que o seu bebê venha logo, Fabrine. Estamos na torcida…
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Fanei-me, que luta abençoada!!! Por extensão, a possibilidade de contribuir na solução para outras pessoas nas mesmas condições.
Deus Todo-poderoso continue te abençoando.