Dra. Fernanda Leonel responde as principais dúvidas sobre os imunizantes e alerta: mesmo vacinado, é preciso continuar mantendo as medidas de proteção contra o coronavírus
Algumas pessoas acreditam que uma vez vacinadas, podem retomar a vida normal, como em um mundo pré-pandemia. Será que isto procede? E o que é a eficácia de uma vacina? Quanto tempo após tomar o imunizante o indivíduo está protegido? Quem já teve Covid pode tomar a vacina? Quem não pode tomar o imunizante? Para esclarecer estas e outras dúvidas, a Verboaria conversou com a médica alergista, imunologista reumatologista Dra. Fernanda Leonel Nunes (foto), da clínica Imunix. Acompanhe:
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Existem no mercado diferentes vacinas – algumas já aprovadas, outras em teste – com diversos graus de eficácia. O que pode ser definido como eficácia?
A eficácia da vacina é determinada a partir dos estudos clínicos de fase 3, realizados em grandes grupos de pacientes. É o último estudo antes da aprovação pelas agências regulatórias, caso da Anvisa no Brasil.
A grosso modo, a análise preliminar compara quantos participantes do estudo contraíram a Covid-19 de acordo com dois grupos: aqueles que tomaram a vacina de verdade e aqueles que receberam doses de placebo, uma substância sem efeito no organismo.
Espera-se que as pessoas vacinadas estejam mais protegidas da infecção pelo coronavírus em relação àquelas que não foram imunizadas. A partir daí, é possível realizar um cálculo relativamente simples, que vai determinar essa taxa de eficácia.
Exemplo: no caso da vacina da Pfizer foram aplicadas 42.000 doses (50% receberam vacina e 50% receberam placebo). Houve 170 casos de Coronavírus entre estes indivíduos, mas apenas 8 pacientes estavam no grupo da vacina, e 162 no grupo do placebo – portanto a eficácia foi de 95%.
Vamos usar como exemplo a CoronaVac, com eficácia geral de 50,38%. O que significa este percentual na prática?
A vacina foi desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. Nos testes de fase 3, com 13.060 voluntários, 85 voluntários do grupo vacinado e 167 do grupo placebo tiveram covid-19. Esses números revelam, portanto, uma taxa de eficácia de 50,38%.
Está acima de 50% requeridos universalmente para considerar um imunizante viável. Além disso, a eficácia de 50,38% é a eficácia geral, mas sobe para 78% para quadros leve e 100% em casos moderados a graves. Pensando de forma ampla: uma vacina com eficácia de 50% tem um ganho maior a nível populacional do que individual. A ideia é vacinar o maior número possível de pessoas com a vacina. Conforme esses números sejam ampliados a tendência é reduzir a transmissibilidade do vírus. Em resumo, não dá para garantir que você esteja protegido após se vacinar, mas a chance de não desenvolver formas graves é muito maior com a vacina e a proteção de grupos populacionais irá reduzir a transmissão do vírus.
A vacina blinda o indivíduo contra a infecção pelo coronavírus? Ou apenas impede que, em caso de contaminação, ele desenvolva um quadro grave de Covid-19?
Não, após 15-21 dias já existe proteção, mas a eficácia máxima, 50,38% e 82,4%, respectivamente para Coronavac e Oxford/AstraZeneca, só ocorrerá após a segunda da dose para ambas as vacinas. Mesmo assim, após o ciclo completo das vacinas é importante continuar com as medidas de proteção como uso de máscara, lavagem das mãos e distanciamento social, uma vez que nenhuma das vacinas tem eficácia de 100%.
É possível estimar quanto tempo após tomar a vacina eu estarei imunizado contra a Covid-19?
Geralmente após 15-21 dias já existe a proteção. O Instituto Butantan não publicou qual a taxa de eficácia com a primeira dose da Coronavac após este período de 2-3 semanas. A AstraZeneca informou que, com a primeira dose da Vacina da Oxford após este período, há uma eficácia de 76%.
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Quanto tempo duram os efeitos das vacinas?
Ainda não se sabe, por exemplo, por quanto tempo dura a imunidade oferecida pelas vacinas. Ainda não temos dados suficientes, pois acabamos de começar a vacinação, mas a expectativa é que a imunidade possa durar 12 meses ou anos.
Quem já teve Covid pode ser vacinado?
Sim, pois as pesquisas ainda não conseguem definir com exatidão o tempo de permanência dos anticorpos das pessoas que já foram infectadas, portanto deve-se aguardar 30 dias após o início dos sintomas para tomar a vacina.
Quem não pode tomar vacina?
Não há restrição. A princípio todos devem ser vacinados, qualquer paciente acima de 18 anos pode tomar a vacina.
Já são conhecidos os efeitos colaterais das vacinas contra a Covid-19 de uso emergencial no Brasil?
Não foram registrados efeitos adversos graves em nenhuma das duas vacinas disponíveis no Brasil. Os efeitos mais comuns foram dor no local da injeção, febre e dor de cabeça de intensidade leve ou moderada.
Qual o percentual necessário de vacinação da população para que se tenha a chamada imunidade de rebanho e as pessoas possam retornar a rotina normal?
A imunidade de rebanho ou imunidade coletiva é o percentual da população que precisa estar imunizado para que o vírus pare de se propagar mesmo nos demais indivíduos que ainda, por algum motivo, não estão vacinados.
Esta imunidade de rebanho depende de uma série de fatores, como a velocidade de propagação do vírus e possíveis mutações. Estima-se que pelo menos 60% da população mundial precise ser imunizada para que o conceito de imunidade de rebanho comece a surtir efeito. Mas esta cifra ainda é imprecisa e pode ser ainda maior. Alguns cientistas falam num patamar de 70-80%.