Empreendedorismo

Crise? Que crise?!

As histórias de empresários que se reinventam, driblam a recessão e comemoram o sucesso nos negócios

empresários têm ideias novas e enxergam oportunidades na crise

Raul, Tiago, Nilson e Keila. O que estes profissionais têm em comum? Correm riscos calculados. Aceitam a incerteza. Abraçam o que é novo. Saem da zona de conforto. Sonham sem tirar os pés do chão. E vendem lenços para os que choram. Em vez de reclamar, criam. Empresários enxergam oportunidades na crise. Arregaçam as mangas, sem medo de pensar fora da caixa.

Desde criança
Raul “nasceu” empreendedor. Com pouco mais de 10 anos de idade já sabia que queria ser empresário. Consultor de empresas, só segue em frente com as consultorias se o cliente cumprir o cronograma. Autoritarismo? Pedantismo? Não. “Não quero só o dinheiro do empresário. Quero que ele dê certo. Se o plano não é seguido, não consigo cumprir minha missão de ajudar”, explica. Num mundo cada vez mais competitivo, profissionais como ele, que ajudam empresas a crescer, são a bola da vez. mpresários enxergam oportunidades na crise.

Pós-venda
De um espaço com 40 m2 para uma clínica de 210 m2, que inclui três consultórios odontológicos completos, recepção, sala de pré e pós-operatório, laboratórios de próteses, de esterilização, acessibilidade, estacionamento próprio, quarto de repouso, cozinha e área para resíduos. A aposta do implantodontista Tiago Gambirasi foi alta. Consumiu recursos, tempo, finais de semana. E veio a colheita: agenda lotada, clientes satisfeitos e planos de inovação. “Tanto quanto cuidar do paciente, eu me preocupo com o depois. Seria o pós-venda. Isto faz muita diferença”, avalia.

Polivalente
De uma borracharia de pouco mais de 32 m2 para um dos maiores centros automotivos de Minas Gerais credenciados pela Continental Pneus, Nilson Botelho é um dos empresários mais conhecidos dentro da área em que atua. Por mês, recebe cerca de 600 carros para dar manutenção. A sala de espera da Pneuscar se assemelha às de recepções de grandes clínicas – tudo foi pensado para agradar o cliente. Nilson conhece cada centímetro quadrado da empresa. Faz questão de circular por todos os departamentos e, se for preciso, abraça funções que caberiam a seus colaboradores. “Não vivi crise econômica. Pra mim ela não chegou”, comemora.

Gratidão
Representante do poder feminino no quarteto, Keila Silva tinha um sonho tão prosaico quanto modesto: arrumar um emprego em que pudesse trabalhar na sombra e sair do sol escaldante imposto pela colheita do café. Hoje, empresária bem sucedida, dona de uma loja que comercializa móveis de madeira e alumínio, mantém os olhos no futuro, com a simplicidade do passado. Se os clientes não vêm, vai até eles em cima de um caminhão, numa espécie de mostra itinerante de móveis. “Sou muito grata a tudo o que Deus me deu. Tenho mais do que preciso”, agradece. Conheça um pouco mais das histórias de quem corre atrás, planeja, ousa e, sobretudo, inspira:

Raul de Oliveira Pimenta, administrador de empresas, dono da RPM Consultoria (Foto: Alessandro Kelvin)

“Desde os 11 anos queria ser dono do meu próprio negócio. Aos 17, quando entrei na faculdade de administração de empresas, já tinha lido cerca de 50 livros sobre o tema. Logo que entrei na faculdade fui trabalhar na área administrativa da Nova D [loja de roupas femininas de alto padrão], onde aprendi muito. Ao longo do curso tive a oportunidade de trabalhar em mais duas empresas. Ainda acadêmico, fui autorizado pela FESP [hoje UEMG] a dar aula para os colegas de sala. Às segundas, quartas e sextas era acadêmico e às quintas e sextas lecionava. Abri a RPM Consultoria quando estava cursando administração. Em 2014, ela funcionava em uma sala. Hoje tenho três salas, sendo uma em parceria com um profissional, trabalho no mínimo 80 horas por semana e tenho consultorias agendadas até 2025. Crescer requer dedicação, disciplina e tempo. E paixão pelo que se faz. Não tenho vendedores. Hoje o meu vendedor é o meu cliente. O cliente fica tão grato que me indica para outros, porque que quer que outros também deem certo. Digo que não tenho uma empresa. Tenho uma causa.”


 

Tiago Gambirasi, implantodontista e proprietário da clínica odontológica Odonto Passos
Tiago Gambirasi, implantodontista e proprietário da clínica odontológica Odonto Passos (Foto: Divulgação)

“Tenho 12 anos de formado. Mas posso dizer que foi de cinco anos para cá que deslanchei. A partir do momento que comecei a focar na humanização, em entregar mais do que o meu cliente pagou, tudo melhorou de verdade. Estudar, ter a visão de empreendedor e de mercado também fez muita diferença. Caso contrário eu poderia ser mais um dentista entre tantos. Mas ter uma clínica humanizada, ligar para saber como o paciente está se recuperando, tratá-lo pelo nome, fazer atendimento em pleno feriado se for preciso, tudo se junta e torna o tratamento uma experiência diferenciada. Muita gente quer atribuir o próprio fracasso a alguém: é culpa do Governo, da crise, do colega de trabalho. Bobagem. Quando você melhora a vida das pessoas, melhora a sua também. Acredito muito nisto.”


Nilson Botelho é dono da Pneuscar
Nilson Botelho, empresário, dono da Pneuscar, centro automotivo credenciado pela Continental Pneus (Foto: Divulgação)

 

“Venho de uma família bem humilde. Fui servente de pedreiro, trabalhei em roça, padaria, fui leiteiro. E sempre gostei de carro. Em 1997, tive a ideia de montar em Passos uma borracharia para fazer reparos de pneus. A borracharia era muito pequena. Mas acreditei. Decidi vender meu carro para comprar uma máquina balanceadora e uma de montar e desmontar pneus. Arrisquei. Preferi andar a pé. Comecei a atrair clientes que tinham carros com roda de liga leve, que estavam dispostos a pagar mais para ter um carro melhor. Isto era um diferencial. Mais tarde agreguei mais um serviço: venda de pneus recauchutados. Depois, reforma de rodas. Só eu fazia em Passos. Minha borracharia sempre foi arrumada. Queria mudar aquele conceito de que borracharia tem que ser bagunçada, desconfortável. Em 2002, comprei o terreno ao lado para ampliar o negócio. Deixei de ser apenas borracharia para ser um centro automotivo. Em 2011 e 2011 a Pneuscar passou por novas ampliações. Hoje está entre as maiores lojas da Continental de Minas Gerais. Nunca vivi estas crises financeiras de que tanta gente reclama. Trabalho muito. Muito. E sem cerimônia. Manobro o carro, levo e trago os clientes, circulo pelos corredores em busca do que pode ser melhorado. Gerencio as redes sociais da loja e sou meu próprio garoto-propaganda. O segredo do sucesso? Mire e corra atrás. E faça com excelência.”


 

Keyla Silva
Keila Aparecida Silva, sócia-proprietária da Móveis 2K (Foto: Lívia Ferreira)

 

“Minha família é muito simples. Comecei trabalhando na lavoura, apanhando café. Pedia a Deus que me desse a chance de ter um trabalho em que eu não precisasse ficar no sol tão quente. Fui atendida. Arrumei um emprego de doméstica. Fiquei muito grata por arrumar um trabalho que me permitisse trabalhar na sombra. Minha patroa veio a ser minha sogra. Depois de três anos de namoro, Ademir e eu nos casamos. Minha sogra, aliás, foi uma mãe para mim. Fiquei dez anos me dedicando à casa e aos filhos. Neste período, meu marido começou a fabricar móveis. Fomos vender móveis no Rio de Janeiro. Durante oito anos moramos em Passo ou no Rio. De volta a Passos, decidi que queria ter uma loja minha – meu marido já estava dedicado a outros negócios. Chamei meu primo Emerson para montar comigo a loja. Não tínhamos um centavo para começar o negócio. Pedi R$ 10 mil emprestados ao meu sogro e meu primo, R$ 10 mil para a irmã. E em 2008 começamos o negócio. Oito anos mais tarde, comprei do meu cunhado uma loja de móveis de alumínio, junto com o maquinário. Passamos a produzir e vender móveis rústicos e também de alumínio e fibra para áreas externa e interna. Não fico sentada, reclamando da crise. Vou em buscar de oportunidades. Se eu ficar em frente à TV vendo notícias sobre crise, perco tempo e venda. Quando não está vendendo bem, chamo meu padrasto, subimos no caminhão com os móveis e saímos para vender na rua, em outras cidades. Acabei de comprar um terreno para construir a fábrica de móveis. Reclamar não paga as contas.”


 

 

 

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo